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Steve Jobs, o rei da usabilidade


Os produtos da Apple são conhecidos essencialmente por duas coisas: facilidade de uso e estética.
Uma grande parte desta facilidade de uso veio da insistência que Steve Jobs fazia junto dos seus engenheiros para que os produtos fossem fáceis de usar.

Todas as sextas-feiras, Steve pedia aos seus engenheiros para terem protótipos prontos, tanto de hardware como de software, independentemente de estarem já a funcionar na totalidade ou não. Ele levava-os para casa e experimentava durante o fim-de-semana. Todas as segundas-feiras começavam com uma longa lista de pontos a corrigir.

Segundo alguns destes engenheiros, trabalhar com Steve podia ser altamente frustrante às vezes, por causa dos relatórios altamente críticos que fazia após experimentar algo de que não gostava. No entanto, isso dava-lhes forças para rastejarem de volta ao seu lugar e criar algo que nunca pensariam ser capazes de fazer.

Era este o papel de Steve. Inspirar os que trabalhavam à sua volta para superarem as expectativas e criarem algo que nunca pensariam capazes de fazer.

No entanto, o método usado por Steve para tornar os seus produtos fáceis de usar pode considerar-se que vai contra as regras definidas pela ergonomia e pela usabilidade, que claramente indicam que devem ser feitos focus groups e testes com utilizadores para que o produto final cumpra as expectativas que os utilizadores esperam do produto.

Numa das suas frases mais conhecidas, Steve explica que "na Apple não fazemos estudos de mercado nem contratamos consultores. Apenas pensamos no que gostariamos de ter, e temos uma forma de pensar que nos leva a criar um produto que outras pessoas possam também querer tanto como nós."

Ou seja, na Apple criam produtos para eles e não para os seus clientes. A grande vantagem de estarmos a criar um produto para nós, é que estamos a resolver os nossos problemas, que sentimos durante o dia-a-dia. E com sorte, os problemas que temos são os mesmos que outros milhares de pessoas também têm, e assim nasce um produto que ajuda a facilitar a vida dessas milhares de pessoas, sem sequer as consultar. E se vier acompanhado de uma estética apelativa, melhor ainda.

E porque é que não há mais empresas a fazer o mesmo?

Porque a maior parte das empresas não percebe o que é a usabilidade nem tem um líder que faz disso o principal objectivo de um produto: ser fácil de usar.

E a outra principal diferença é que os produtos da Apple não têm muitas funcionalidades extra. São criticados muitas vezes por isso, mas é isso que torna os seus produtos fáceis de usar e extremamente focados na realização de uma tarefa de forma excelente, em vez de fazer mil e uma tarefas de forma medíocre.

Don Norman, outro guru da usabilidade, chama a isso "featuritis", a doença dos produtos que têm demasiadas "features" (funcionalidades), e que acabam por ser extremamente difíceis de usar. E infelizmente, na maior parte dos casos em que uma empresa começa a pensar num novo produto, acaba sempre por ter mil e uma ideias de novas funcionalidades, umas porque o produto da concorrência também tem e por isso também temos de ter; outras porque são funcionalidades diferenciadoras porque a concorrência ainda não tem. E esquecem-se de se focar na funcionalidade principal do produto e da facilidade de uso do mesmo, que se deteriora à medida que se vai adicionando a complexidade de mais uma funcionalidade extra.

Hoje em dia, vários produtos da Apple são usados como exemplo de excelente usabilidade.

Po exemplo, a Apple foi a primeira empresa a vender um computador com um rato. Na altura, o rato tinha apenas um botão. Hoje em dia, os computadores da Apple continuam a ter um rato com apenas um botão. Simplicidade ao máximo. É claro que agora podemos usar gestos, mas o essencial continua lá: um botão.

Quando o iPod foi lançado, o principal foco do produto era tocar música. Não dava para editar, mover ou apagar as músicas, mas era extremamente fácil de começar a ouvir uma música. Hoje em dia, o iPod continua a não dar para fazer qualquer tipo de gestão de músicas, mas continua a ser o reprodutor de música digital mais usado em todo o mundo.

E finalmente o iPhone, que revolucionou a forma como usamos o telemóvel. Com um interface táctil natural, usando o dedo como dispositivo apontador, conseguiu tornar algo complicado de usar, em algo que até uma criança de 2 anos consegue usar com relativa facilidade.

No final de uma reunião com os seus engenheiros, Steve Jobs teve esta conversa com um deles:

"Sabes o que este iPod tem de bom?
Este iPod só dá para carregar um décimo das músicas do Zune (dispositivo concorrente do iPod, produzido pela Microsoft). O Zune é o BMW dos reprodutores de música digitais. Tem muito mais funcionalidades que o iPod e dá para fazer um montão de coisas. Mas sabes qual é o problema?
O problema é que ninguém quer ler as instruções. O Zune tem todas estas coisas extra, como se fosse um BMW. Mas quando pegas num iPod, simplesmente conduzes".

Steve Jobs ensinou-nos a conduzir sem nunca termos de ler as instruções, e isso, é o Santo Graal da usabilidade.


3 Comentários

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  1. Steve Jobs

    O exemplo da BMW é que foi infeliz…
    http://www.e90post.com/forums/showthread.php?t=594685

  2. Ivo Gomes

    O exemplo do BMW não foi usado no mau sentido. Foi usado no sentido de que é um objecto de luxo e que é melhor do que os outros à volta. Mas às vezes, para usar o melhor, é preciso ter uma curva de aprendizagem (ex: é diferente conduzir um BMW com tracção traseira quando se está habituado a conduzir carros com tracção dianteira), e se pegarmos num produto mais simples, não temos necessidade dessa curva de aprendizagem.

  3. Gonçalo Rodrigues

    Bem escrito. Completamente de acordo.

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